A medida anunciada pela China representa mais um forte golpe à indústria brasileira. Em abril, a União Europeia anunciou a proibição de 20 frigoríficos brasileiros de exportar frango para o bloco econômico.
‘Substancialmente prejudicados’
Uma decisão preliminar do ministério descobriu que os produtores chineses foram “substancialmente prejudicados” pelos embarques do Brasil entre 2013 e 2016, quando o país forneceu mais da metade das importações chinesas de carne de frango. Uma fonte da embaixada brasileira em Pequim disse que a medida é “muito decepcionante“, segundo a Reuters.
“Não estamos convencidos de que há dumping, lesão ou um nexo de causalidade“, disse a fonte, recusando-se a ser identificada devido à natureza sensível do tópico.
Embora o resultado inicial da investigação iniciada em agosto passado era esperado para este mês, a imposição das medidas ocorre também no momento que os EUA tentam recuperar o acesso ao mercado avícola chinês, em meio a negociações comerciais em andamento.
A China concordou em aumentar suas importações de produtos agrícolas norte-americanos em recentes negociações destinadas a evitar uma guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.
“Estamos muito, muito preocupados com essas negociações, porque o que nós não queremos ver é os exportadores brasileiros em situação de desvantagem vis-à-vis outros concorrentes que podem também estar em condições de exportar para este país“, disse a fonte da embaixada brasileira à Reuters.
As medidas antidumping são mais um golpe para os exportadores de carne do Brasil, que ainda estão se recuperando das conseqüências da operação Carne Fraca, da Polícia Federal.
A BRF, maior exportadora mundial de carne de frango, disse no mês passado que o aumento nos preços dos grãos e as barreiras ao comércio em importantes mercados frustraram os esforços para que a empresa voltasse a lucrar.
Analistas e a indústria não ficaram surpresos com a decisão, e ressaltaram que ela ainda é inicial e pode ser mudada.
Uma fonte da indústria brasileira disse que o Ministério do Comércio propôs mais negociações com os exportadores, incluindo a possibilidade de estabelecer um preço mínimo para as exportações para a China.
Ainda não está claro se a indústria vai aceitar tal proposta, disse ele.
Medida é retrocesso, diz entidade do setor
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) emitou nota protestando contra a decisão do Ministério do Comércio da China.
“A decisão é provisória. A medida final será anunciada em agosto deste ano. A ABPA continuará a trabalhar no âmbito do processo, buscando reverter a decisão imposta temporariamente“, informou.
Segundo a ABPA, em 2017, o país asiático foi destino de 391,4 mil toneladas de carne de frango do Brasil, equivalente a 9,2% de tudo o que o país embarcou no período.
A associação diz que não há nexo causal entre as exportações de carne de frango do Brasil e eventuais situações mercadológicas locais. “Os esclarecimentos apresentados pelo setor produtivo e pelas agroindústrias exportadoras deixaram clara a ausência de qualquer possível dano aos produtores e ao mercado chinês“, informa.
A entidade considera que a medida retrocesso nas boas relações comerciais construídas por brasileiros e chineses ao longo da década.
Segundo a ABPA, apesar de uma potencial retração no desempenho dos embarques em toneladas, o fluxo comercial deverá ser mantido mesmo com a imposição da medida, devido à alta demanda do mercado chinês.
Os exportadores brasileiros devem ser capazes de absorver o impacto dos depósitos, particularmente para pés de frango, que de outra forma não teriam valor, disse Pan Chenjun, analista sênior do Rabobank à Reuters.
“A China não é o mercado mais importante (para o Brasil), mas em valor é muito importante, pois absorve todos os subprodutos“, disse.
Pan Chenjun espera que os importadores negociem com os fornecedores para compartilhar as taxas de depósito.
Li Jinghui, diretor da Associação de Avicultura da China, não quis comentar as notícias. Um funcionário da Associação de Agricultura Animal da China também se recusou a comentar.
Não está claro o que acontecerá com as remessas já a caminho da China. Um depósito antidumping incidente sobre o sorgo dos Estados Unidos em abril causou o caos no comércio de grãos, com dezenas de cargas retidas enquanto importadores tentavam vender para outros mercados para evitar pagar as tarifas.