Produção de café e abacaxi foi reduzida drasticamente após geadas registradas em julho. Para diminuir os danos financeiros, a Emater vai emitir laudos gratuitos para agricultores familiares.
Os produtores de café e abacaxi do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba ainda contabilizam os prejuízos causados pelo frio. As geadas registradas nas regiões no fim de julho reduziram drasticamente a produção em Patrocínio e Frutal, onde para alguns agricultores a colheita pode ser de apenas 10% do previsto.
Para mobilizar os produtores, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) realiza uma força-tarefa para buscar soluções para o problema. Para isso, a empresa vai emitir um laudo com os danos sofridos pelos agricultores, que para produtores da agricultura familiar a emissão será gratuita (veja mais abaixo).
Café
Em Patrocínio, município com a maior área de café em produção, com mais de 60 mil hectares, a estimativa é que, pelo menos, 55% da área tenha sido afetada pela geada. Segundo a produtora Virgínia Coutinho Aguiar Siqueira, todos os 300 hectares de café arábica plantados foram atingidos pelas baixas temperaturas.
“Nunca houve uma geada dessa em Patrocínio. A minha família está com o café há muitos anos e meu pai nunca presenciou algo assim para se ter ideia. E eu estou nisso há 30 anos e nunca tinha visto”, disse a agricultora.
A expectativa era que 15 mil sacas de café fossem colhidas, porém, esse número foi reduzido para 10% do previsto. De acordo o filho de Virgínia, José Lucas Aguiar Siqueira, ações estão sendo estudadas para tentar recuperar ao máximo a lavoura, mas a produção só deve ser retomada normalmente daqui dois ou três anos.
“A lavoura foi 100% atingida, porém, com graus de severidade diferentes. Em 70% da área os danos foram bem severos e teremos que fazer uma intervenção mais radical. Talvez uma poda ou o corte completo. Os outros 30% foram menos afetados e estamos analisando o que faremos. Na recuperação mais rápida, nós pulamos 2022 e produzimos em 2023, ao passo que essas áreas que foram mais afetadas devem voltar a produzir somente em 2024”, disse o produtor.
Abacaxi
No Triângulo Mineiro, o município de Frutal é um dos maiores produtores de abacaxi pérola do estado e as perdas com a geada podem ultrapassar a marca dos 60%. Conforme o produtor Luciano Castro, essa foi a primeira vez que perdeu tantos frutos em mais de 30 anos de produção. Dos 20 hectares plantados na safra atual, 7 foram afetados.
“Em 1994, houve uma geada que tivemos prejuízo considerável, mas foi muito localizado, como em locais mais baixos do terreno. Dessa vez, os danos foram mais extensos, com todo mundo perdendo um pouco da produção. Tanto em áreas mais altas como mais baixas”, disse o agricultor.
Na mesma região, Salmo de Oliveira plantou 270 mil pés de abacaxi. Com o custo de produção chegando a quase R$ 1, a expectativa era que cada fruta fosse vendida a R$ 1,70. No entanto, com os danos causados pela geada, muitos produtos sequer poderão ser comercializados.
“A geada afetou toda a minha lavoura, e a minha expectativa é de colher quase nada. Alguns frutos não têm nada, mas como a geada queimou alguns, eles param de crescer”, disse Oliveira.
Como o tempo de produção do abacaxi pérola varia entre 18 e 24 meses e a maior parte já seria colhida em agosto, Luciano Castro fez um apelo aos consumidores que avaliam a fruta pela aparência. Segundo ele, mesmo com a coroa queimada, os abacaxis ainda têm muita qualidade.
“Se a casca estiver bonita, vamos consumir esse abacaxi, pois se ele for para a indústria o produtor terá uma remuneração muito baixa. Por trás daquele abacaxi existem várias famílias. É uma corrente que depende desse negócio, e é importante que o consumidor saiba que a coroa queimada não influencia no sabor da fruta”, concluiu Castro.
E a geada pode não ter afetado apenas a produção de 2021. De acordo com o extensionista da Emater, Luís Guilherme Postali, a safra de 2022 também pode ser afetada devido à falta de boas mudas para produção.
“Os produtores utilizam dessas mudas que produziriam esse ano para fazer os futuros plantios. E pode ser que tenhamos problemas com mudas para o plantio da próxima safra”, pontuou Postali.
Força-tarefa
Para buscar soluções que diminuam o prejuízo dos agricultores, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) realiza uma força-tarefa para emissão de laudos técnicos que comprovem os danos causados pelas geadas. O documento permite que os produtores tenham acesso aos programas do Governo Federal que podem ser lançados em breve.
Os laudos estão sendo emitidos por meio de parcerias com prefeituras e cooperativas. Até o dia 30 de setembro de 2021, a emissão dos documentos vai ser gratuita para agricultores familiares. Já para médios e grandes produtores, o serviço será cobrado.
“Estão sendo discutidas políticas públicas para auxiliar os produtores nesse momento, em especial, para alguns municípios da nossa região, que vão precisar de auxílio. A Emater vai disponibilizar o suporte através da emissão desses laudos”, disse o coordenador Técnico da Emater, em Patrocínio, Henrique Queirós Borges.
Segundo ele, é importante que os produtores comuniquem a Emater para que as visitas técnicas possam ser organizadas. Apesar de ser a lavoura mais afetada, o café não é o único produto incluído na emissão dos laudos. Todos os agricultores que tiveram a produção atingida pelo frio podem entrar em contato com a empresa.
“É uma informação preliminar importante. Será levantada a área que o produtor tem e o tamanho da área afetada e daqui um tempo teremos condições de verificar a intensidade dos danos”, concluiu o coordenador.
A Emater também elaborou uma cartilha para ajudar os produtores afetados. Conforme a publicação, a principal recomendação no momento é procurar informações e confirmar se a área tem cobertura de seguro agrícola. Outra dica é não realizar nenhuma intervenção.
Geadas
As regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba registraram quedaa na temperatura no dia 20 de julho, quando vários municípios registraram geada. Em Conceição das Alagoas, a mínima chegou a -0,7°C.