Frank Ronaldo Soares, de 43 anos, é o médico rio-pretense preso em São Paulo na manhã desta terça (3) pela Polícia Federal na operação Vagatomia. Ele é dono da empresa Ammed Revalida que captava e treinava estudantes de medicina no exterior para o Revalida, numa parceria com a Universidade Brasil. Frank e a mulher também têm vínculos trabalhistas como docentes da UB. A empresa Ammed Revalida é representada juridicamente pelo advogado Jean Dornelas, que é vereador em Rio Preto. O médico, empresário e professor é um dos 22 alvos da PF no escândalo que levou para a cadeia o dono e reitor da Universidade Brasil, José Fernando Pinto Costa, 63 anos, e o filho dele.
Eles são acusados de participar de esquemas de vendas de vagas em curso de medicina, além de fraudes no Fies, Prouni e Revalida, que é a validação do diploma obtido no exterior aqui no Brasil. Até as 14h, dos 22 procurados (11 mandados de prisão temporária e 11 mandatos de preventiva), 18 já tinham sido encontrados pela PF.
Além do médico, outros três investigados foram surpreendidos pelos agentes da PF logo cedo em Rio Preto: Aurélia Sousa Ferreira, Paulo Marques e Murilo Ferreira de Paula.
Já o médico Frank Ronaldo Soares, que mora em Rio Preto, foi preso em São Paulo, onde estaria “a trabalho”. Ele teria sido flagrado, segundo a Polícia Federal, com o que pode ser classificado como uma “cartilha de lavagem de dinheiro.”
A empresa em questão é representada juridicamente pelo advogado Jean Dornelas que responde, inclusive, pela defesa do médico-empresário preso. Em entrevista ao DLNews, Dornelas diz que a prisão de seu cliente é injusta, porque o contrato dele com a Universidade Brasil para o Revalida teria sido rompido em 2018. Segundo ele, a própria UB rompeu o contrato para fazer o serviço de Revalida por conta própria.
Dornelas confirma que o médico e a mulher dele ainda têm vínculo como professores da UB, mas afirma que, apesar de contratados com carteira assinada, os dois já estão “há algum tempo sem prestar serviço como docente”. A mulher do médico-empresário não é uma das pessoas presas.
Ainda de acordo com Dornelas, a empresa do médico que ele representa juridicamente fazia a captação de alunos para o Revalida e aplicava os curso obrigatório para o exame. Mas, ainda segundo ele, isso era feito por meio de uma parceria com a Universidade Federal do Mato Grosso, porque a lei só autoriza uma universidade pública a conceder o revalida.
“Enquanto era feito pela empresa do meu cliente, era dentro da regularidade. Depois, o dono da Universidade Brasil começou a fazer por conta própria e, por isso, rompeu com meu cliente. Não é conversa de advogado, mas ele é inocente”, afirma Dornelas.
O advogado também se disse surpreso com o fato de seu cliente estar na relação da PF. “Eu acompanhei as buscas na empresa em Rio Preto. A PF chegou até a apreender documentação da universidade para a qual a empresa presta serviços atualmente. Mas é aquela coisa, primeiro prende depois explica. Mas a empresa não tem envolvimento algum com o esquema”, afirmou.
Atualmente, a empresa do médico presta serviço para uma instituição de Santos.
A operação
A operação Vagatomia envolveu aproximadamente 250 policiais federais no cumprimento de 77 mandados judiciais expedidos pela Justiça Federal de Jales/SP nas cidades paulistas de Fernandópolis, São Paulo, Rio Preto, Santos, Presidente Prudente, São Bernardo do Campo, Porto Feliz, Meridiano, Murutinga do Sul, São João das Duas Pontes e Água Boa no Mato Grosso.
Entre os mandados judiciais expedidos estão 11 prisões preventivas, 11 prisões temporárias, 45 ordens de busca e apreensão e 10 medidas cautelares (alternativas à prisão). A Justiça Federal também determinou o bloqueio de bens e valores dos investigados até o valor de R$ 250 milhões.
Estimativas iniciais da PF indicam que, nos últimos cinco anos, aproximadamente R$ 500 milhões do Fies e Prouni foram concedidos fraudulentamente. Cursos relacionados ao exame Revalida e transferências do exterior para cursos de medicina no Brasil também estão sob investigação.
No início do ano, a PF recebeu informações que relatavam crimes e irregularidades que estariam ocorrendo no campus de um curso de medicina em Fernandópolis/SP. Vagas para ingresso, transferência e financiamentos FIES para o curso de medicina estariam sendo negociados por até R$ 120 mil por aluno.
Durante oito meses de investigações, a PF apurou as informações recebidas e concluiu que o líder da organização criminosa é o próprio dono da universidade, que também ocupa o cargo de reitor.
Assessorias educacionais, com o apoio dos donos e toda a estrutura administrativa da universidade, negociaram centenas de vagas para alunos (muitos deles já identificados) que aceitaram pagar pelas fraudes a fim de serem matriculados no curso de medicina. Entre estes alunos, que compraram suas vagas e financiamentos, existem filhos de fazendeiros, servidores públicos, políticos, empresários e amigos dos donos da universidade, todos com alto poder aquisitivo, que mesmo sem perfil de beneficiário do FIES, mediante fraude, tiveram acesso aos recursos do Governo Federal.
Com a sistemática atual de inclusão de dados e aprovação do FIES pelas próprias universidades privadas (beneficiárias dos recursos que aprovam), a PF estima que milhares de alunos carentes por todo o Brasil podem ter sido prejudicados em razão destas fraudes.
Preso já foi alvo de moção de aplausos na Câmara
Os laços do médico Frank Ronaldo Soares com o vereador Jean Dornelas (PSL) vêm de longa data, tanto é que o parlamentar conseguiu a aprovação de uma moção de aplausos a Soares. O motivo, segundo o documento, foi a participação da empresa de Soares, a Ammed Clínicas Integradas Saúde e Segurança, em um evento organizado pela TV Record, onde Dornelas tinha programa, no dia 3 de março de 2018, o Balanço Geral nos Bairros. Na ocasião foram oferecidos diversos exames e procedimentos gratuitos à população.