Em 2022, a campanha do Dia Mundial do Rim foca na educação sobre a doença renal como arma preciosa para prevenção.
A doença renal crônica (DRC) é a incapacidade dos rins de efetuar suas funções adequadamente, comprometendo a taxa de filtração glomerular. A causa da DRC envolve eventos agudos, como quadros de lesão renal aguda que se cronificam ou está relacionada a perda progressiva da função por outros fatores, principalmente as malformações congênitas do trato urinário e glomerulopatias. Na infância os sinais de alerta mais comum são as infecções urinárias, que podem acometer até 50% das crianças que evoluem para quadros de DRC em estágios avançados.
Em março, a ISN (Sociedade Internacional de Nefrologia), chama a atenção para os cuidados e prevenção da doença renal. Este ano, a campanha do Dia Mundial do Rim (DMR), gerida no Brasil pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), foca justamente na educação sobre a doença renal como arma preciosa para prevenção.
Médica nefropediatra do Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF), da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Anne Caroline Bicalho Fagundes, explica que a DCR é uma patologia silenciosa e que no caso das crianças, os pais devem ficar atentos aos sinais de que algo não vai bem com os pequenos, já que as lesões renais costumam evoluir mais lentamente e têm sintomas inespecíficos. Elas são causadas, principalmente, pelas malformações congênitas do trato urinário ao nascimento.
“Nas crianças, os principais sintomas são alterações no aspecto da urina, especialmente as infecções urinárias, inchaço nos olhos e região abdominal, alteração na pressão arterial e déficits no crescimento e desenvolvimento sem justificativas cabíveis. Esses são os principais sintomas nos pequenos”, ressalta a especialista.
Outros sintomas são a fadiga, dificuldade de concentração, diminuição do apetite; sangue e espuma na urina, incômodo ao urinar, dor lombar, anemia e fraqueza.
Número de pacientes aumenta
Segundo a médica Anne Caroline, não há cura para a DCR, mas o tratamento retarda ou interrompe a progressão da doença. “Quanto mais cedo o diagnóstico, mais chance terá o paciente de não evoluir ou evoluir tardiamente para tratamentos como a diálise e o transplante renal. A insuficiência renal pode ser tratada com medicamentos e controle da dieta”, pondera.
No Brasil, segundo dados da SBN, o número de pacientes com DRC avançada é crescente, sendo que atualmente mais de 140 mil pessoas realizam diálise no país.
A especialista também informa que a DRC é uma doença crônica não transmissível. Até 2040, projeta-se que será a quinta mais comum no mundo. “Hoje a gente sabe que a cada dez crianças que evoluem em algum momento da vida para diálise, cinco apresentaram em algum momento infecção urinária. Então, este pode ser o primeiro sinal de alerta aos pais que as crianças estão com problemas renais congênitos crônicos e que não são diagnosticados nos postos de saúde. É preciso investigar e procurar ajuda de um especialista”, completou.
Daniella Fernandes Medeiros, mãe da pequena Valentina Ianni Medeiros Rocha, de 4 anos, relata que levou um susto ao saber do diagnóstico da filha. Ela está em observação na pediatria do HUCF. “Minha pequena começou a sentir dores abdominais muito fortes e fomos orientados a procurar o hospital. Ela tem uma síndrome e inchaço nos olhos foi o que me chamou a atenção. Levava ao alergista, tomava antialérgico e não resolvia. Foi um grande impacto e um momento difícil em minha vida. Nunca imaginei que uma criança poderia ter problemas renais, mas estou confiante que ela se recupere logo, pois 80% das crianças se recuperam quando diagnosticadas a tempo. A mudança em casa foi para todos. Não comemos mais com sal e a alimentação tem sido bastante balanceada”, conta.
Funções renais
Entre as principais funções dos rins estão limpar as impurezas e as toxinas de nosso corpo, regular a água e manter o equilíbrio das substâncias minerais (sódio, potássio e fósforo), liberar hormônios para manter a pressão arterial e regular a produção de glóbulos vermelhos no sangue, ativar a vitamina D – que mantém a estrutura dos ossos, dentre outras.
Segundo a Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde (MS), estima-se que haja atualmente no mundo 850 milhões de pessoas com doenças renais decorrentes de várias causas. A é responsável por pelo menos 2,4 milhões de mortes por ano, com uma taxa crescente de óbitos. No Brasil, a estimativa é de que mais de 10 milhões de pessoas tenham a doença.
A disfunção renal pode ser identificada por meio de dois exames, um de análise da urina e outro de sangue. O primeiro identifica a presença de uma proteína em quantidades acima do normal na urina, e o segundo, a presença de outra, a creatinina, que também se eleva em situações de DRC.